quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Juventude e participação

Cultura e Participação

No texto organizado por Abrahmo, Juventude em Debate, Marcelo Rubens Paiva argumenta que, na década de 1980, a juventude brasileira não contava com um espaço para suas manifestações. “não havia canais de troca, não havia pessoas pensando, não havia espaço para a divulgação, não havia cadernos especiais nos jornais, como existem hoje o folhateen e o ZAP , não havia programas como o “Matéria- Prima”, o “Programa Livre”, e o “H”, nem revistas especializadas.” ABRAMO. Pg41. Enfim o jovem vivia sem informações básicas para levar adiante seu cotidiano, e também não contava com o poder de uma “voz” ativa para exigir seus direitos enquanto cidadãos. Paiva vê a juventude como sendo um elemento novo dentro do conjunto da sociedade brasileira, juventude esta que se diferencia daquela existente na década de 1960 e 1970, que teve a possibilidade de intervir na historia do Brasil, por meio de movimentos individuais ou em grupos para o fim da ditadura militar existente neste país.
Para o autor as juventudes de décadas anteriores as de 80, souberam melhor se engajar no contexto político brasileiro dos referidos períodos do que a atual, mesmo contando com mecanismos, sejam eles intelectuais, materiais, culturais e sob ponto de vista de um contexto histórico onde o Brasil se vê em um período “democrático” que os capacitam para uma tomada de consciência acerca das varias problemáticas existentes, jovens posteriores a década de 1980 agem de forma individualista, não tendo um propósito que abranja determinado grupo especifico, independente do que se queira reivindicar.
“se olharmos para a historia brasileira, identificaremos a geração dos jovens do final dos anos 60, que pegaram em armas e resistiram à ditadura, que procuraram transformar o cotidiano das pessoas através de uma nova utopia, uma nova sexualidade, uma nova espiritualidade, uma nova relação com a família.”pg 42
A educação escolar a qual a juventude de décadas anteriores teve acesso, muito se diferencia da qual temos hoje, a antiga educação totalmente limitada por um governo ditador, ao qual temos os resquícios em nossa universidade, em salas de aulas, pela divisão dos centros acadêmicos etc. Teve por objetivo a castração intelectual da juventude desta época, entretanto não obteve êxito total, graças à luta e a consciência daquela juventude.
“Com a anistia, em 1979, a censura acabou, e teve inicio o processo de transição democrática, o que levou o movimento estudantil a perder seu sentido, pois não mais adiantava fazer greve ou passeata – o Brasil precisava na verdade de uma transformação radical,”pg 44.

Nos dias atuais temos uma educação deficiente, e que também tem por intuito a castração intelectual dos alunos, no entanto a existência de meios extracurriculares, tais como livros sobre qualquer assunto ao alcance da juventude, a internet como um todo que abrange assuntos dos mais variados, o direito a livre expressão, que mesmo nos dias atuais ainda é repressiva, mas que nem de longe se assemelha à repressão vivida pelas demais juventudes.
“a minha geração que já nasceu sob um regime militar, que foi educada com base no império do novo código de educação,da reforma educacional dos anos 60, de acordo com a qual os estudantes, todas as sextas-feiras, eram obrigados a cantar o Hino Nacional, a ficar em formação para o hasteamento da bandeira, além de uma matéria obrigatória chamada Organização Social e Política do Brasil (OSPB).” Pg 42.
Nosso problema atual talvez não seja a derrocada de uma ditadura ou um presidente da república, mas temos políticos que cumprem seu mandato com extrema “deficiência”, temos inúmeras desigualdades dos mais diversos tipos, enfim temos uma sociedade que precisa que seus cidadãos exerçam seu papel como tal, diante de um país democrático, e que gere problemas sociais cada vez maiores.
A crença de que a juventude é a única capaz de cobrar e alcançar mudanças, tendo em vista o dito popular cunhado por muitos, “os jovens são o futuro do país”, talvez posso ter respaldo na definição dada Regina R. Novaes a cerca da condição biológica da juventude.
“Biologicamente, o jovem é aquele que, em tese, esta mais longe da morte. Biologicamente tem mais pré-disposição à vida, tem gosto pela aventura, tem maior curiosidade pelo novo. Em conseqüência tem um lado mais propenso ao revolucionário.” Pg 46.

Impulsionados por tal definição, e pelo contexto histórico mundial a qual a juventude esta alocada é realmente possível à crença de que o único capaz de mudanças é ela, e talvez seja devido a isto que na atualidade a juventude seja tão rechaçada por órgãos governamentais, sobretudo pelo aparato policial, que vê na juventude seu alvo principal.
Independentemente de status social, gênero e cor de pele, a juventude é estigmatizada como sendo “rebelde”.
“Há diferenças entre os jovens que são contemporâneos e vivem em uma mesma sociedade. Entre os jovens brasileiros há diferenças muito importantes em decorrência do pertencimento a classes sociais distintas, das relações de gênero, de estilos de vida, de local em que se habita, e outras diferenças tantas que nos levam a pensar até a idéia de “juventude” é uma palavra vazia.